O Paraná tem 22 cidades que possuem mais eleitores do que habitantes, segundo levantamento feito pelo G1 com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a estimativa populacional de 2020, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações são de Wesley Bischoff, do G1 PR.
Todos os municípios registrados no levantamento têm menos de 7 mil habitantes. O número de eleitores registrados a mais do que moradores varia entre 37 e 1.629 pessoas.
O professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e coordenador do Núcleo de Pesquisas em Participação Política da instituição, Rafael da Silva, explica que as hipóteses para a diferença vão desde a defasagem dos dados oficiais até possibilidade de fraude.
O município que aparece com a maior diferença proporcional na relação entre habitantes e eleitores é Altamira do Paraná, no noroeste do estado.
Segundo os dados do TSE, o município tem 3.311 eleitores. No entanto, pela projeção do IBGE, a cidade conta com 1.682 habitantes, ou seja, quase metade do total de registrados para voto.
A cidade com maior população que aparece no levantamento é Borrazópolis, no norte do estado, com população estimada em 6.439, de acordo com o IBGE. Apesar disso, o TSE registra 6.721 eleitores.
O que causa a diferença?
O professor da UEM Rafael da Silva diz que não existe apenas uma causa específica que explica o registro de cidades com mais eleitores do que população. Segundo ele, há um conjunto de hipóteses possíveis.
A primeira é alguma inconformidade na estimativa populacional elaborada pelo IBGE, que é atualizada anualmente. Apesar disso, o último censo, com dados mais precisos, foi feito em 2010.
“Como entre censos o IBGE não tem um dado atualizado, ele acaba fazendo projeções pelos modelos econométricos que depois serão corrigidas com um novo censo.”
Além disso, segundo Silva, o Brasil vem apresentando nos últimos pleitos um crescimento não linear de municípios com menos moradores do que eleitores, o que pode estar ligado com o fato da distância do último censo realizado pelo IBGE.
Outra hipótese é a defasagem do cadastro eleitoral. Segundo o professor, mudanças no perfil do eleitorado, como migração entre cidades e morte, também podem contribuir para a diferença.
“Cidades pequenas têm uma característica muito peculiar, que muitas vezes a população sai em busca de melhores condições. Há muitos casos em que o eleitor se muda, mas não atualiza o cadastro dele”, disse.
Silva também não descarta a possibilidade de fraude. Como exemplo, o professor citou o caso de uma cidade que recebeu diversos eleitores por influência de um grupo político.
“O candidato viabilizou toda a documentação para conseguir a transferência do voto e, coincidentemente, quando saíram os dados, essa cidade figurava entre as que tinham mais eleitores que moradores. É possível acontecer”, explica.
No Brasil
Em todo o Brasil, o levantamento do G1 apontou que são 493 municípios com mais eleitores do que habitantes. O número é 60% maior do que o registrado em 2018.
A maior diferença proporcional foi encontrada em Severiano Melo (RN), que tem 6.482 eleitores registrados, mas 2.088 habitantes, conforme a estimativa do IBGE.
Segundo o levantamento, maior parte das cidades nessa situação é de pequeno porte: 475, ou 96% do total, têm menos de 10 mil habitantes.
A legislação prevê que o TSE faça uma revisão de eleitorado nos casos em que o número de eleitores é maior que 80% da população, ou quando o número de transferências de domicílio eleitoral for 10% maior que no ano anterior.
Além disso, o órgão também precisa fazer a mesma revisão quando o eleitorado for superior ao dobro da população entre 10 e 15 anos, somada aos maiores de 70 anos no município.
Foto: Nelson Jr. / TRE
Do G1 PR