Acompanhando Política de perto há pelo menos 33 anos, nunca vi cenas tão grotescas como as protagonizadas por Jair Bolsonaro e sua trupe no vídeo contendo a gravação da fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, trazido a público por decisão do ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal).
De pronto, o presidente da República e seus ministros fizeram História: desnudados pelo vídeo sem filtros, serão lembrados como a equipe ministerial mais tosca, ignorante e antipatriótica que já freqüentou a Esplanada dos Ministérios dos últimos 52 anos – data que elejo com divisor de águas na contemporânea República brasileira por ter sido o ano em que o general Arthur da Costa e Silva baixou o Ato Institucional N° 5, o mais vil golpe da ditadura militar contra a democracia brasileira.
Dada a gravidade das confissões e a baixeza das declarações tanto dos seus ministros quanto de Bolsonaro, que incluíram 29 palavrões em 2h de reuniões e a confissão gravíssima de que intercedeu em favor dos seus filhos para evitar investigações feitas pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, já não é mais possível que a sociedade e as instituições aleguem desconhecimento dos equívocos dos homens que assolam a República.
Estamos, de fato, diante de uma trupe de gestores, em sua quase totalidade, sem nenhum compromisso com o interesse público. Alguns, por omissão. Outros, por incompetência. A maioria, porém, por absoluto desinteresse de fazer as mudanças prometidas por Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018.
Criticar o governo, porém, é muito pouco. Os crimes confessados pelo presidente da República e seus ministros exigem uma reação duríssima das instituições públicas e privadas às quais compete zelar pela democracia, pela ordem e pelo bem estar dos brasileiros. Falo, sobretudo, do STF e do Congresso Nacional.
Vergonhosamente, porém, não é o que tem ocorrido. O STF, vale lembrar, na reunião do dia 22 de abril, foi alvo de uma ofensa gravíssima por parte do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que pediu a prisão dos ministros do Supremo.
A despeito disso, o que tivemos foi um inacreditável silêncio do presidente do Supremo, Dias Toffoli, e de quase todos os ministros – exceção feita a Celso de Mello e Marco Aurélio Mello que têm feito justiça ao papel que lhes cabe.
Assim com Toffoli, os presidentes da Câmara Federal, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, – ambos acusados sistematicamente pelo presidente da República de prejudicar o governo – optaram por um gutural silêncio, mesmo diante das aberrações proferidas na reunião ministerial.
Seguindo a mesma trilha da omissão, Maia permanece dando de ombros aos 25 pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro que repousam sobre sua mesa, a despeito da pluralidade partidária e institucional dos autores dos processos e da enorme quantidade de crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente desde que assumiu o mandato, no início do ano passado.
Resultassem os erros do governo apenas em querelas midiáticas, não haveria problema nenhum no silêncio dos homens mais poderosos da República. O problema, de extrema gravidade, é que a tranquilidade de Toffoli, Maia e Alcolumbre está custando vidas por força da incompetência, da irresponsabilidade e da teimosia de Jair Bolsonaro.
Falo sobretudo das mais de 30 mil mortes pela Covid-19, que em parte resultam da inoperância do Governo Federal no enfrentamento do problema e, sobretudo, da postura do presidente da República de estimular seus eleitores e o empresariado a romper o distanciamento social para reativar a economia.
Falo ainda da sua trágica política em relação ao meio ambiente, que está causando danos irreversíveis a todos os grandes ecossistemas nacionais, sobretudo à Floresta Amazônica. Tão trágica a ponto do ministro da área, Ricardo Salles, ter revelado clara aliança com fazendeiros, madeireiros e demais destruidores da Amazônia na reunião do dia 22, quando disse que é necessário aproveitar a atenção destinada pela sociedade à Covid-19 para afrouxar as regras de proteção do meio ambiente.
Diante da gravidade da situação, é absolutamente urgente que as autoridades se posicionem, na defesa dos interesses do País, e afastem imediatamente o presidente da República do poder. Jair Bolsonaro já provou não ter nenhuma capacidade de ocupar o cargo mais importante da República.
Mais que prejudicar o País, Bolsonaro coloca em xeque as instituições. STF, Congresso Nacional e as mais importantes autoridades do Judiciário e do Legislativo País serão duramente cobradas pelo destino, caso não contenham os abusos presidenciais: passarão à História como traidores da Pátria e cúmplices do governo mais desastroso das últimas décadas.
Foto: Marcos Corrêa / PR