Na medida em que avança a cobertura de vacinação contra a Covid-19, também se renovam as esperanças sobre a chegada do dia em que tudo voltaria a ser como antes do coronavírus (Sars-CoV-2) surgir em Wuhan, na China, e se espalhar por todo o mundo. A crença de muitos é que, com a vacinação, medidas de proteção como uso de máscara, do álcool em gel e o distanciamento social deixariam de ser necessárias e, consequentemente, não precisariam mais ser respeitadas. Mas, infelizmente, é justamente o contrário e assim o será por mais um bom tempo, considerando-se o ritmo da vacinação no Brasil e a disponibilidade de imunizantes pelo mundo. As informações são de Rodolfo Luis Kowalski, do Bem Paraná.
Infectologista da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba, a médica Marion Burger destaca que, enquanto houver o estado de pandemia — o que já acontece desde 11 de março de 2020 —, é necessário que todas as pessoas continuem seguindo as medidas sanitárias recomendadas. Isso inclui os indivíduos que já tiveram Covid-19 e também aqueles que já foram vacinados parcialmente (com a aplicação da primeira dose) ou até completamente (quando a pessoa já tomou as duas doses da vacina contra a doença, dependendo do imunizante).
Os motivos principais para isso seriam três. O primeiro é que nenhuma vacina confere 100% de proteção contra novas infecções. “Nem a vacina contra a Covid nem contra qualquer outra doença”, ressalta a especialista.
Além disso, ainda não se sabe se as pessoas que foram vacinadas ou que contraíram a doença em outro momento não pode, voltando a entrar em contato com o vírus, voltar a transmiti-lo. “Eles podem vir a ser transmissores ainda, mesmo não adoecendo”.
Já a terceira e mais “atual” justificativa é que, com o surgimento de novas variantes, aumenta-se a incerteza acerca da proteção conferida pelas vacinas, conforme os resultados em estudos clínicos.
“Não sabemos se o grau de proteção vai chegar a 70%, como os estudos clínicos mostraram antes da circulação de novas variantes. Então não dá para relaxar mesmo [as medidas de prevenção], precisa continuar usando máscara, manter o distanciamento de um metro e meio entre as pessoas e ventilar bem os ambientes, pela saúde pessoal e coletiva”, reforça ainda a Marion.
Por fim, com a proximidade do início da Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe (que começa no dia 12 de abril, conforme o Ministério da Saúde), outra recomendação importante é que quem for tomar os dois imunizantes dê um intervalo entre um e outro.
“O grande desafio daqui para frente é, mesmo quando conseguirmos vacinar todo mundo, as pessoas estiverem protegidas, lembrar que o novo coronavírus veio para ficar, não vai sumir por mágica. Vai se tornar uma doença endêmica como a gripe e vamos precisar aprender e incorporar essas atitudes [de prevenção] para não ter futuramente novas epidemias desse vírus, que vai passar a circular entre as pessoas normalmente”.
de Marion Burger, infectologista da Prefeitura de Curitiba
Município está ‘otimista e confiante’ em acelerar imunização
Ainda segundo a infectologista da Prefeitura de Curitiba, o município está “otimista e confiante” na possibilidade de uma aceleração no ritmo da vacinação contra a Covid-19. Recentemente, o Ministério da Saúde mudou a estratégia de imunização, recomendando a utilização de todo o estoque para a aplicação da primeira dose, sem a necessidade de reserva para garantir a segunda dose do imunizante para quelas que já foram vacinados. Além disso, municípios e estados também foram autorizados a comprar vacinas e há a expectativa de um incremento na produção do Instituto Butantan (que produz a Coronavac) e da Fiocruz (vacina da Oxford-AstraZeneca).
“Esperamos um aporte maior de vacinas, temos um contingente grande de pessoas a serem vacinas e só é possível com vacinas. Esperamos que o governo federal possa enviar mais doses, o que veio até agora é muito pouco pro número de pessoas que devem ser contempladas, e esperamos também que outras medidas possam ajudar para essa cobertura vacinal avançar”, diz Marion Burger.
Curitiba vacinou 7% da população e precisa chegar a pelo menos 70%
Até a última quarta-feira (24/03), 142.407 curitibanos haviam sido vacinados contra o novo coronavírus, sendo que 47.922 dessas pessoas já tomaram também a segunda dose do imunizante. Isso significa que, até aqui, 7,3% da população que vive na capital paranaense já foi imunizada. Mas para que um retorno à normalidade (ou a algo parecido com isso) seja possível, é necessário que pelo menos 70% dos curitibanos estejam vacinados, segundo explica a infectologista Marion Burger, fazendo uma extrapolação com relação ao que se vê em outras doenças.,
“Imaginamos que 70% vacinado representaria uma proteção adequada. E com as vacinas, o que mais esperamos é evitar um agravamento dos casos de Covid, para que as pessoas não necessitem de hospitalização e não vão à óbito”, diz a especialista, citando ainda que a vacinação tem vários objetivos. “Um deles é o controle de uma epidemia, mas nem todas as vacinas conseguem fazer essa ação. O objetivo principal da vacina é a proteção de formas graves da doença”, finaliza.
Foto: Daniel Castellano / SMCS
Do Bem Paraná