Passados apenas 13 meses desde o início do governo de Jair Bolsonaro, a batalha pela sucessão do presidente da República não apenas já começou, como ganha contornos bem definidos – e bem planejados. Um deles é a clara opção de boa parte dos barões da mídia e da elite econômica brasileira por um pré-candidato a presidente com potencial explosivo de votos: o apresentador de TV e empresário Luciano Huck, da Rede Globo.
Não sem motivos. Fora os candidatos derrotados nas eleições presidenciais de 2018 (como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad-PT e o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes-PDT) e os medalhões que acumulam anos de janela na Política (como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva-PT, o governador de São Paulo, João Dória-PSDB e o governador do Maranhão, Flávio Dino-PCdoB), Huck é – disparado – o candidato “outsider” mais badalado pela imprensa e pelos mais ricos.
Isto porque o outro fortíssimo pré-candidato à sucessão presidencial de 2022, o ex-juiz federal Sérgio Moro, fugiu da categoria “outsider” e perdeu parte da sua aura de divindade ao aceitar o convite de Bolsonaro para ser ministro da Justiça. Perdeu mais ainda ao virar alvo da “Operação Vaza Jato”, deflagrada pelo portal The Intercept, que tem denunciado as enormes irregularidades cometidas por Moro e pela turma comandada pelo procurador Deltan Dallagnol na “Operação Lava Jato”.
Nesta condição, Moro virou vitrine e conheceu o outro lado da fama entre os privilegiados que ocupam posições públicas de ponta no Governo Federal: recebeu críticas duríssimas à sua atuação na Lava Jato, agravadas pela sua omissão diante das irregularidades cometidas pelo filho “número dois” do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro. Mesmo desgastado, porém, permanece como opção forte dos setores conservadores da sociedade para 2022 e prossegue sendo o ministro mais popular do governo.
Mas Luciano Huck é, de maneira inegável, o favorito de grande parte da elite brasileira para 2022. O apresentador encarna o paradigma do candidato ideal: homem, branco, famoso, casado com uma bela e igualmente famosa esposa, rico, sem histórico (público) de corrupção, neófito em Política, com uma trajetória empresarial bem sucedida – e, o mais importante, dono de uma retórica neoliberal moderada, com verniz progressista, feita sob medida para os grandes empresários brasileiros. É isto que justifica – tanto quanto sua enorme popularidade – o grande espaço de Huck na imprensa desde que assumiu a condição de pré-candidato a presidente, em meados de 2018.
Há outro fator que reforça este interesse pelo apresentador: o desastre chamado governo Bolsonaro. O presidente da República recebeu apoio maciço do empresariado e das elites na campanha eleitoral de 2018 não porque era o candidato mais honesto e competente, mas porque – ao menos na avaliação deste grupo – era o único capaz de conduzir a agenda conservadora defendida pelas elites para derrubar o projeto reformista e de poder do PT e de Luiz Inácio Lula da Silva – favoritíssimo nas pesquisas pré-eleitorais daquele ano.
Agora, porém, Bolsonaro perde, a cada dia, importância neste segmento, mesmo com as reformas impopulares que promoveu, tão ao gosto do empresariado. O motivo é evidente: sua inacreditável capacidade de fazer e falar bobagens – produtos da sua cavalar ignorância e autoritarismo. Este perfil tosco e o andar de tartaruga da economia geram desconfiança entre o empresariado (leia-se os investidores brasileiros e estrangeiros) e profunda irritação da elite mais letrada com o estilo Urtigão do ocupante do Palácio do Planalto.
É assim que o presidente da República permanece como favorito à reeleição, mas calcado em suas fortes bases construídas junto aos fundamentalistas evangélicos, militares conservadores e classe média. Não mais, portanto, na quase totalidade do empresariado e menos ainda no segmento mais esclarecido e disposto a apoiar um candidato a presidente mais confiável, culto, democrático e palatável.
Tanto empenho deste grupo em garantir superexposição a Luciano Huck já se reflete nos números das pesquisas que apontam os favoritos da sucessão presidencial de 2022. Em janeiro, em pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), encomendada pelo Instituto MDA, o apresentador da Globo tinha 0,5% de preferência do eleitorado e era o 7º no ranking dos presidenciáveis. Isso tudo sem confirmar sua candidatura.
Mantendo este ritmo de exposição pública e sua agenda de eventos no Brasil, Huck já deverá aparecer entre os três ou quatro primeiros colocados nas pesquisas apontando os favoritos para a sucessão de 2022, possivelmente empatado com Sérgio Mouro e próximo de Lula (que não será candidato).
O futuro dirá se Luciano Huck será candidato em 2022 e, caso seja, presidente da República. O fato é: o bom moço da Globo terá gente de peso ao seu lado, na sua jornada eleitoral. Isso faz toda a diferença, como se viu em 1989 com Fernando Collor de Mello e em 1994 com Fernando Henrique Cardoso. Huck é o candidato dos sonhos dos poderosos. Só não vê quem não quer.
Foto: World Economic Forum
Link permanente
Sou a Camila da Silva, e quero parabenizar você pelo seu artigo escrito, muito bom vou acompanhar o seus artigos.